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Novas alternativas para o tratamento da síndrome metabólica

Estudo desenvolvido no Programa de Pós em Biologia Celular e Molecular do IOC em cotutela com a Universidade de Strasbourg, na França, investiga o uso de anti-hipertensivos de ação central no tratamento da doença

Obesidade, hipertensão arterial, sedentarismo e maus hábitos alimentares são alguns dos fatores diretamente relacionados à síndrome metabólica. A doença, considerada um mal moderno, é avaliada principalmente pela circunferência do abdômen e aumenta significativamente as chances do surgimento de doenças cardiovasculares e diabetes. Em recente estudo produzido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), especialistas testaram os efeitos de medicamentos anti-hipertensivos que já estão disponíveis no mercado como possíveis alternativas de tratamento para a síndrome metabólica. Nos experimentos realizados em ratos, foram observados benefícios como a redução das taxas de açúcar e de colesterol no sangue.

 Gutemberg Brito

 

Pesquisadores testam fármaco de 3ª geração como alternativa para o tratamento da síndrome metabólica. O composto apresenta menos efeitos colaterais com os mesmos benefícios dos de gerações anteriores 

Um dos principais ganhos em estudos como este é que, ao testar a possibilidade de novas aplicações para fármacos já disponíveis no mercado, corta-se uma série de etapas. Questões regulatórias, aprovações para comercialização, definição de dosagem e numerosos aspectos que estariam relacionados ao estudo de uma substância recém-descoberta não se aplicam, ou se aplicam apenas parcialmente. O resultado é a tendência de maior velocidade entre a descoberta científica realizada sobre a substância nas bancadas de laboratório e sua liberação para ser receitada nos consultórios médicos.

O estudo foi tema da tese de doutorado do farmacêutico Alessandro Rodrigues do Nascimento, defendida no Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Celular e Molecular do IOC. O trabalho, desenvolvido sob orientação dos pesquisadores do Laboratório de Investigação Cardiovascular, Eduardo Vera Tibiriçá e Marcos Adriano da Rocha Lessa, é uma das primeiras defesas realizada em cotutela com a Universidade de Strasbourg, na França, por meio da coorientação do pesquisador Pascal Bousquet, em regime de dupla titulação.

Modelo experimental e resultados
A pesquisa testou 50 roedores de experimentação, que durante 20 semanas foram alimentados com uma dieta hipercalórica a base de açúcar, gordura, amido e sal com o objetivo de induzir o quadro de síndrome metabólica. “Após esse período, foi constatado que os animais apresentaram aspectos característicos da doença, como alterações metabólicas e microcirculatórias, acompanhadas de elevação da pressão arterial e da frequência cardíaca, entre outros aspectos”, descreveu Nascimento.

Ao longo do experimento, os animais foram separados em diferentes grupos. Cada um destes grupos recebeu um tratamento específico, durante quatro semanas, incluindo os anti-hipertensivos clonidina (de 1ª geração), rilmenidina (de 2ª geração) e LNP 599 (de 3ª geração), que foram administrados em doses diferentes e ajustadas de acordo com o peso dos animais.

Alessandro conta que os animais tratados com os medicamentos de segunda e terceira gerações apresentaram resultados positivos após o tratamento. “Demonstramos uma redução dos níveis glicêmicos e verificamos que os anti-hipertensivos rilmenidina e LNP 599 foram capazes de reduzir a gordura visceral nos animais. Também confirmamos o efeito benéfico dessas terapias sobre a pressão arterial, a frequência cardíaca e as taxas de colesterol e de triglicerídeo”, explicou o recém doutor. Em relação à resistência à insulina, foi observado que tanto a rilmenidina quanto a LNP 599 tiveram efeitos positivos.

Os pesquisadores também constataram um efeito adicional: no caso do fármaco de terceira geração, houve aumento da densidade capilar nos animais com síndrome metabólica. A redução do número de capilares é uma das consequências associadas à hipertensão e à síndrome metabólica, podendo prejudicar a irrigação sanguínea de órgãos e tecidos. “De forma surpreendente, o tratamento conseguiu aumentar o número de capilares de forma significativa, revertendo a rarefação capilar presente nestes animais”, afirmou Nascimento.

Segundo ele, o conjunto de resultados obtidos no estudo indica que os fármacos de segunda e terceira gerações contribuíram para a melhora dos índices lipídicos e glicídicos, além do reestabelecimento dos parâmetros microcirculatórios e cardíacos deste modelo experimental de síndrome metabólica.

Além disso, o fármaco de terceira geração não apresenta efeitos colaterais, como boca seca e sonolência, presentes nos compostos de outras gerações. De acordo com o autor do trabalho, os resultados apontam para um estímulo da indústria farmacêutica a produzir o LNP 599 para o tratamento humano, assim como já acontece com a clonidina e rilmenidina. “O LNP 599 é um composto descoberto há pouco tempo e ainda não produzido pela indústria para tratamento humano. Porém, com os resultados da pesquisa, queremos demonstrar os efeitos benéficos de compostos relacionados e a possibilidade de sua utilização no tratamento da síndrome metabólica”, finalizou Nascimento.

Síndrome Metabólica
A doença é caracterizada por uma associação de fatores como obesidade, diabetes, hipertensão arterial, além de triglicerídeos e colesterol em níveis aumentados. Os fatores influenciam diretamente o desenvolvimento de distúrbios cardiovasculares nos pacientes acometidos pela síndrome metabólica.


Vanessa Sol
03/10/2013
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

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